Aumento do Etanol na Gasolina: Como isso afeta o seu bolso
- Paulo Silva
- 27 de jun.
- 3 min de leitura

A proposta de aumento do percentual do etanol na gasolina de 27,5% para 30%, conhecida como E30, vem ganhando força no Brasil em 2025, ainda mais agora, com a aprovação do governo federal.
De um lado, há o estudo técnico do Instituto Mauá de Tecnologia, encomendado pelo próprio governo, que concluiu que a nova mistura representa uma alternativa viável do ponto de vista técnico e ambiental em veículos leves e motocicletas, sem prejuízos significativos à performance, emissões ou durabilidade de componentes críticos, mesmo com a ocorrência de falhas de funcionamento em alguns modelos e condições de funcionamento.
Assim sendo, a realidade prática é mais complexa, especialmente para veículos não-flex e motos a gasolina, que já vinham enfrentando desafios com o E27. Alguns modelos mais antigos, por exemplo, foram fabricados em uma época em que a gasolina possuía uma concentração ainda menor de etanol anidro, que era de 22%. Todo o acerto de mistura ar-combustível e tempo de injeção foi desenvolvido para esse percentual, o que pode aumentar as chances de mau funcionamento com o combustível que teremos nas bombas, à partir de Agosto de 2025.
Carros flex, que representam cerca de 83% da frota nacional, possuem sistemas de injeção eletrônica e sensores capazes de identificar a proporção de etanol em tempo real, ajustando a mistura adequadamente. Assim, esses motores operam bem com E30, embora o menor poder calorífico do etanol implique em aumento do consumo. Em outras palavras, o mesmo volume de combustível gera menos energia, reduzindo a autonomia e pressionando o bolso do motorista, especialmente se o preço do litro não for ajustado.
Falando em ajustes, a estimativa do Ministério de Minas e Energia é que o preço do litro de gasolina reduza, em média, R$ 0,11 nas bombas, mas de acordo com a Fecombustível, essa redução pode ser bem menor, em torno de R$ 0,02 por litro, uma vez que o etanol anidro representa apenas 12,7% do preço da gasolina, de acordo com a Petrobras. De uma forma ou outra, não será algo tão expressivo, e dificilmente, o consumidor sentirá essa mudança, na prática, quando for abastecer, uma vez que os postos de combustíveis são livres para repassar essa redução de preço, ou não.
Somando-se isso ao fato de que ANP suspendeu a fiscalização sobre a qualidade dos combustíveis comercializados por falta de recursos, como informou a Quatro Rodas, podemos estar mais sujeitos a abastecer uma gasolina com uma concentração ainda maior de etanol e sabe-se mais lá o que.
Veículos exclusivamente a gasolina — incluindo modelos mais antigos ou importados — podem sofrer mais. A presença adicional de etanol aumenta a higroscopicidade do combustível, favorecendo a corrosão de componentes metálicos, como em bombas de combustível, bicos injetores e velas. Embora testes tenham demonstrado que a engenharia atual tolera essa mudança de acordo com o apurado por Quatro Rodas (com algumas ressalvas, de acordo com o relatado por Autoentusiastas), o desgaste acelerado desses sistemas pode demandar manutenções mais frequentes, com custos de que podem variar de R$ 300 a mais de R$ 5.000, dependendo da tecnologia de injeção de combustível.
Modelos específicos reagem de formas distintas ao E30. Em motores com injeção direta de combustível, como os EA888 TSI do Volkswagen Jetta, por exemplo, os sensores e sistemas de comando variam automaticamente a mistura, mantendo desempenho aceitável (em uma faixa de tolerância que ainda tem seus limites) e amenizando os impactos térmicos, embora o consumo continue superior com E30. Já em modelos mais antigos, como um AP de um Volkswagen Santana ou um GM Família 2 de um Chevolet Monza, fornece-se um efeito duplo: redução da eficiência térmica do motor, exigindo mais combustível, uma vez que a mistura estequiométrica é fixa, bem como o desgaste progressivo de componentes de alimentação e ignição, que não possuem proteção superficial para lidar com uma concentração cada vez maior de etanol.
E o pior: essa mudança não causou uma redução significativa nas emissões de carbono para a atmosfera, que seria o seu "principal objetivo", o que nos leva a pensar sobre como isso pode ser, benéfico, de alguma forma, para os consumidores.
Em resumo, embora o E30 seja tecnicamente viável e (talvez) ambientalmente atraente em teorias laboratoriais, no mundo real os impactos práticos recaem sobre veículos não-flex, com potencial de aumento de custos e manutenção.
Para o motorista brasileiro, que nem sempre está com o seu carro em perfeito estado de manutenção preventiva e corretiva (diferente do que se prevê em laboratório), a conta pode vir em forma de maior consumo, revisões mais constantes e prováveis gastos imprevistos.
Mas e você? O que acha sobre esse assunto? COMENTE ABAIXO!!!
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