Motor EA111 | Tudo que vocĂȘ precisa saber
- Paulo Silva
- 17 de out. de 2023
- 10 min de leitura
Atualizado: 3 de abr.

Lançado no nosso mercado em 1997 com a missão de aposentar os motores AP de menor cilindrada e os CHT, o então moderno motor EA111 cumpriu muito bem esse papel, mesmo tendo sofrido alguns percalços ao longo do caminho, o que dividiu opiniÔes com relação à sua confiabilidade mecùnica.
Seu desafio era ser mais leve, suave, potente e econĂŽmico, em relação aos antigos citados acima, sem ter um custo de produção que fosse muito mais elevado. O foco aqui era trabalhar trĂȘs pilares principais de eficiĂȘncia de um motor de combustĂŁo interna: volumĂ©trico, tĂ©rmico e mecĂąnico.
Para isso, foram adotadas as principais atualizaçÔes:
Acelerador eletrĂŽnico "E-GAS"
Bobina de ignição eståtica
Coletor de admissĂŁo em termo plĂĄstico
Tampa do cabeçote com função mancal
Balancins roletados
Bloco do motor em ferro fundido reforçado com liga de titùnio
Bomba de Ăłleo duocĂȘntrica
Coletor de escape redesenhado para favorecer o torque em baixa
Nova central de gerenciamento eletrĂŽnica Bosch ME 7.5.10
Um projeto desenvolvido realmente para brigar no topo do mercado, e que vamos analisar cada detalhe, a seguir.
APLICAĂĂES E VARIAĂĂES
1.0 8v AZN (AT-1000) - aspirado - 62cv gasolina - SOHC - Gol G2/G3 (1997 a 2002)
1.0 16v AZP - aspirado - 69cv gasolina (76cv, 2002 em diante) - DOHC - Parati G2 (1997 a 2004), Gol Mi (1998 a 2004), Polo (2002 a 2004)
1.0 16v - turbo - 112cv gasolina - DOHC - Gol e Parati G3 (2000 a 2003)
1.0 8v BNW/CCNA/CPBA - aspirado - 71/72cv flex - Gol e Fox (2003 a 2007)
1.0 8v VHT - aspirado - 72/76cv flex - Gol e Fox (2008 a 2012)
1.0 8v TEC - aspirado - 72/76cv flex - Gol e Fox (2013 a 2015)
1.4 8v BTJ - aspirado - 76/80cv flex - Kombi (2006 a 2013)
1.6 8v BAH - aspirado - 101cv gasolina - SOHC - Polo e Golf (2002 a 2004), Audi A3 (2000 a 2006)
1.6 8v BJA - aspirado - 101/103cv - SOHC - Fox (2003 a 2007), Polo e Golf (2005 a 2007)
1.6 8v VHT,CCRA - aspirado - 101/104cv - SOHC - Gol (2008 a 2015), Voyage (2008 a 2018), Fox (2008 a 2021), Polo e Golf (2008 a 2014)
PROJETO
BLOCO

ConstruĂdo em liga de ferro fundido enriquecido com titĂąnio, esse bloco entregava excelente rigidez mecĂąnica, com um peso total menor, o que favorece a relação de potĂȘncia gerada comparada Ă sua massa.
TambĂ©m possui um desenho que favorece uma melhor ventilação interna, o que reduz o consumo de Ăłleo ao longo da vida Ăștil do motor.
CABEĂOTE

Entrega uma excelente eficiĂȘncia tĂ©rmica, em função do desenho da cĂąmara de combustĂŁo, que favorece o efeito "tumble", que Ă© o turbilhonamento da mistura ar/combustĂvel para melhorar a sua atomização, gerando uma queima mais eficiente ao mesmo tempo em que refrigera melhor os pistĂ”es.
Em plena carga, sĂŁo obtidos melhores nĂșmeros de desempenho, ao mesmo tempo em que consegue entregar um menor consumo de combustĂvel em situaçÔes de carga parcial.
De fluxo cruzado, os dutos de escape formam canais convergentes, o que gera uma menor restrição Ă saĂda dos gases, favorecendo o torque em baixas rotaçÔes.

O coletor de admissĂŁo Ă© construĂdo em termo plĂĄstico poliamida, reforçado com fibra de vidro, que pode suportar temperaturas de atĂ© 190°C e o ataque quĂmico do combustĂvel. Nesse tipo de material, tambĂ©m Ă© possĂvel obter menores valores de rugosidade superficial interna, o que facilita o fluxo de ar para os cilindros.
Ainda no coletor de admissĂŁo, tambĂ©m Ă© montada a vĂĄlvula de alĂvio de pressĂŁo para retorno de chama, que Ă© o famoso "filtro anti-chama" ou "back fire". Ă muito comum ocorrer vazamentos de Ăłleo nessa peça, se estiver utilizando uma de baixa qualidade, o que pode exigir uma substituição mais frequente.
Os injetores sĂŁo montados no prĂłprio cabeçote, muito prĂłximos Ă s vĂĄlvulas de admissĂŁo, o que permite uma injeção de combustĂvel mais atomizada na cĂąmara de combustĂŁo, tornando o processo de queima ainda mais eficiente. Ainda Ă© um sistema de injeção indireta, de baixa pressĂŁo, mas bem mais eficaz comparado a motores mais antigos, com os bicos montados no coletor.

O controle da borboleta de aceleração Ă© feita de forma eletrĂŽnica, ou seja, nĂŁo hĂĄ uma conexĂŁo fĂsica por cabo de aço entre o pedal do acelerador e essa borboleta. No pedal, existe um potenciĂŽmetro, que envia um sinal elĂ©trico para o mĂłdulo de controle, que o interpreta, e por sua vez, envia um pulso para abrir ou fechar a passagem de ar para o motor.
As vantagens desse tipo de sistema sĂŁo o controle maior de como deve ser o comportamento do motor, de acordo com o nĂvel de exigĂȘncia do motorista. TambĂ©m Ă© um sistema que filtra aquelas vibraçÔes involuntĂĄrias do pĂ© sobre o pedal, permitindo uma maior economia de combustĂvel em situaçÔes de baixa carga.
Também as trocas de marcha são feitas de forma mais suave, assim como o controle de marcha lenta, que nesse caso é feito também pela borboleta de aceleração, dispensando aquele atuador separado, comum nos motores AP, por exemplo.
A tampa do cabeçote Ă© fundida em liga de alumĂnio e incorpora os mancais para apoio da ĂĄrvore de comando de vĂĄlvulas, o que entrega uma melhor rigidez estrutural para o motor como um todo, ao mesmo tempo em que reduz o nĂșmero de componentes para montagem.
Geralmente, se identifica variaçÔes desse motor pela caixa do filtro de ar. De 2002 atĂ© meados de 2008, tanto 1.0 quanto 1.6 usavam um modelo de caixa em peça Ășnica, fixada por quatro pontos coxinizados, que alĂ©m de abrigar o filtro, tambĂ©m tinha a função de cobertura para o motor.
De 2008 em diante, jå atualizados em vårios pontos, dentre eles, a caixa do filtro de ar do motor 1.0 ficou um pouco menor, e mais recuada no cofre do motor, e ostentando a sigla "VHT", de "Very high torque", ou traduzindo literalmente, torque muito alto. Como o nome jå diz, esses motores passaram a contar com ainda mais força de reação e tração, comparado aos anteriores.
De 2012 em diante, com nova atualização nos 1.0, agora a sigla passa as ser "TEC", de "Tecnologia para Economia de CombustĂvel", passando agora, a contar com bobinas de ignição individuais para cada cilindro, dentre outras melhorias, para ter uma sobrevida no mercado, atĂ© 2016, quando foram substituĂdos pelos mais modernos motores EA211 de 3 cilindros, aspirados, os famosos MPi, que vocĂȘ pode conferir a matĂ©ria completa sobre eles, aqui.
Voltando em 2008, na atualização "VHT", os motores 1.6 passaram a contar com uma caixa do filtro de ar bem menor, deslocada para a direita do cofre do motor, e agora conectada ao coletor por um duto de ar. Sem maiores atualizaçÔes depois disso, atĂ© saĂrem de linha, no final de 2021.
CĂRTER

Neste motor, Ă© um componente divido em duas partes, sendo a superior em alumĂnio fundido, para melhor rigidez estrutural de fixação ao bloco do motor, enquanto a inferior Ă© em aço estampado, mais maleĂĄvel e resistente Ă pequenos impactos.
ĂRVORE DE MANIVELAS OU VIRABREQUIM

ConstruĂdo em ferro fundido, essa ĂĄrvore de manivelas exige apenas quatro contrapesos, para manter nĂveis ainda bem baixos de vibração, comparado a similares com oito contrapesos.
JĂĄ os casquilhos, podem vir em trĂȘs espessuras diferentes, para um ajuste ideal durante a sua montagem. Nos motores 1.0, possuem uma largura menor, o que, ao sofrer desgaste, podem acabar se deslocando lateralmente, prejudicando o fluxo de Ăłleo para as bielas. Nos 1.6 isso nĂŁo ocorre, pois possuem a mesma largura dos moentes em que vĂŁo assentados. Mesmo se sofrerem desgaste, nĂŁo vĂŁo se deslocar a ponto de deixar de coincidir a furação para lubrificação.
COMANDO DE VĂLVULAS

Como jĂĄ foi dito, a ĂĄrvore de comando de vĂĄlvulas Ă© montada no cabeçote, e fixada pela prĂłpria tampa de vĂĄlvulas, que a tem a função de mancal para esse componente. Na sua traseira, o comando possui quatro dentes que geram pulso para o sensor de fase, imprescindĂvel para o correto funcionamento do motor.
Os balancins sĂŁo acionados por roletes, o que reduz muito o atrito com os cames do comando de vĂĄlvulas, melhorando consideravelmente a eficiĂȘncia do motor em trĂąnsito urbano principalmente, ou seja, em situaçÔes de baixa carga.

Uma vantagem desse sistema de baixo atrito, é a possibilidade de trabalhar com o comando de vålvulas em uma posição mais central em relação ao balancim, o que permite uma liberdade maior de projeto para um desenho mais suave do perfil do came.
TambĂ©m nesse modelo de projeto, Ă© exigido um espaço menor para o alojamento dos tuchos (que sĂŁo hidrĂĄulicos), sobrando mais espaço para as galerias do lĂquido de arrefecimento e permitindo um melhor controle da temperatura de trabalho desse motor. Dessa forma, os projetistas podiam atĂ© se dar ao luxo de aumentar um pouco tambĂ©m a taxa de compressĂŁo dentro de uma faixa segura de temperatura.
Falando em tuchos hidrĂĄulicos, esses componentes vĂȘm apoiados em uma extremidade do balancim, para suavizar o movimento de retorno das vĂĄlvulas. E a principal vantagem de serem pressurizados Ă Ăłleo, Ă© que eles sĂŁo do tipo autoajustĂĄveis, ou seja, dispensam a clĂĄssica manutenção de ajuste de folga de vĂĄlvulas que os tuchos mecĂąnicos exigem periodicamente.
LUBIRFICAĂĂO

A bomba de Ăłleo Ă© do tipo duocĂȘntrica, acionada diretamente pela ĂĄrvore de manivelas, o que permite um diĂąmetro total reduzido para o rotor, que Ă© de 62 milĂmetros, ao mesmo tempo em que promove um menor atrito e redução de peso. E Ă© claro que, para situaçÔes de altas rotaçÔes, hĂĄ uma vĂĄlvula limitadora de pressĂŁo.
O óleo lubrificante recomendado pela montadora, para motores fabricados até 2014, deve atender à norma VW 502.00. Após essa data, jå é exigido a norma VW 508.88. A capacidade total de troca, considerando a substituição do filtro, é de exatos 4 litros.
No mercado, a viscosidade SAE mais comum de de encontrar atendendo Ă essas normas, Ă© a 5w40, mas atenção! Nem todo Ăłleo 5w40 atende aos requisitos da montadora, portanto, certifique-se de que, o Ăłleo que vocĂȘ estĂĄ comprando, tem escrito em seu rĂłtulo a especificação VW indiciada para o seu veĂculo.
PISTĂES E BIELAS

Fabricados em alumĂnio fundido, os pistĂ”es possuem sua superfĂcie lateral com acabamento grafitado, o que reduz o desgaste durante a fase fria, bem como o nĂvel de ruĂdo.
Na parte inferior do bloco, estão fixados os injetores de óleo, que são direcionados para as saias dos pistÔes, o que melhora a sua lubrificação e refrigeração, permitindo também uma maior taxa de compressão e aproveitamento do avanço de ignição desses motores. A pressão de trabalho desses injetores fica entre 1,4 e 1,7 bar.

Cada biela, possui um canal interno, que vai de um olhal ao outro, para permitir a sua lubrificação e refrigeração (daà a importùncia da furação dos casquilhos sempre coincidir com a das bielas, como foi explicado anteriormente, para os motores 1.0). Esse canal também permite que o óleo chegue aos pinos dos pistÔes.
As bielas dos motores EA111 sĂŁo fabricadas pelo processo de fundição, em peça Ășnica, e depois tĂȘm suas capas dividas pelo processo de craqueamento. Desse forma, ao desmontar as bielas desse motor, deve-se marcĂĄ-las em conjuntos, para que ao remontar, cada biela seja novamente unida Ă sua respectiva capa.
Ă um mĂ©todo de fabricação mais barato, que exige essa atenção extra, porĂ©m tem a vantagem de permitir um ajuste perfeito das folgas, o que tambĂ©m contribui para um menor nĂvel de vibração quando em funcionamento.
SINCRONISMO

Sempre feito por correia dentada, que tambĂ©m Ă© responsĂĄvel pelo acionamento da bomba do lĂquido de arrefecimento, auxiliada por uma polia tensora automĂĄtica, que mantĂ©m a correta tensĂŁo de trabalho em qualquer regime de rotação.
O sincronismo Ă© feito com o auxĂlio de marcaçÔes existentes na polia da ĂĄrvore do comando de vĂĄlvulas e na engrenagem da ĂĄrvore de manivelas. TambĂ©m existe uma marcação para ajustar a polia tensora de forma ideal.
PONTOS DE ATENĂĂO

Um fato importante sobre o que diferencia os motores 1.0 dos 1.6, e que tornam estes Ășltimos bem mais confiĂĄveis, Ă© quanto a largura dos casquilhos, que se assenta perfeitamente, sem folgas, entre os contrapesos do virabrequim.
Nos 1.0, os casquilhos sĂŁo mais estreitos, o que torna possĂvel que eles se desloquem transversalmente no eixo, quando muito desgastados. Se isso ocorrer, a furação para a passagem de Ăłleo lubrificante, que deve ficar coincidente entre o casquilho, a biela e o eixo, pode se deslocar, bloqueando a passagem de Ăłleo, fazendo com que o motor perca capacidade de lubrificar peças vitais para seu funcionamento.
Isso nĂŁo ocorre nos motores 1.6, justamente por este encaixe sem folga dos casquilhos no virabrequim.

Um outro problema que atingiu, em grande maioria, os motores 1.0, e que foi muito comentado na época, estå relacionado com uma especificação errada de óleo, por parte da VW.
Segundo especificaçÔes da prĂłpria montadora, para os motores fabricados Ă partir de março de 2008, visando melhorar a eficiĂȘncia, a viscosidade foi alterada de 5w40 para 0w30 (mesmo ambos atendendo Ă norma VW 502.00).
A princĂpio, isso nĂŁo deveria ser um problema, pois o motor havia passado por vĂĄrios testes de resistĂȘncia e durabilidade, mas alguns proprietĂĄrios de Gol G5, Voyage e Fox, relataram ruĂdos caracterĂsticos, consumo excessivo de Ăłleo e um desgaste prematuro das peças, relacionados Ă uma lubrificação insuficiente e fragilidade mecĂąnica desses componentes.
Problema esse que era potencializado quando o carro era frequentemente abastecido com etanol, situação em que um lubrificante, naturalmente, perde um pouco de sua eficiĂȘncia. A VW, para resolver o problema, recomendou que se voltasse a utilizar a especificação de Ăłleo anterior, o 5w40, e estendeu a garantia de 3 para 4 anos.
Um detalhe curioso é que, nessa época, a VW recomendava que a troca de óleo fosse feita a cada 15 mil km, mas depois voltou atrås também nessa recomendação, passando para 10 mil km ou 1 ano, para condiçÔes normais de uso.

JĂĄ para os motores 1.6, a recomendação sempre foi utilizar o Ăłleo 5w40 (Norma VW 502.00), portanto, foi mais difĂcil ocorrer esses relatos de falha de lubrificação nesses de cilindrada maior. Isso atĂ© 2014, quando a norma foi atualizada para a VW 508.88, tambĂ©m sem maiores relatos de problemas nessa parte.
Em resumo, os motores da linha EA111, se provaram bem eficientes em um médio e longo prazo, o que permitiu uma longa estadia no nosso mercado.
Mas para se ter uma boa durabilidade, alguns cuidados devem ser sempre tomados, como a utilização de um óleo de especificação recomendada pela montadora, que sob hipótese alguma, deve ser alterado, sob pena de danos graves ao propulsor.

Ainda tem aqueles mais raros, com cabeçote 16 vålvulas, seja o aspirado ou turbo, que também exigiam um cuidado extra, que muitas vezes não foi respeitado.
Mesmo na época em que foram lançados, causar danos nesses motores de peças mais caras, sempre significava uma conta alta na oficina.
O fato de muitos donos nĂŁo terem tido esses cuidados, faz com que seja quase impossĂvel encontrar um carro desses hoje em dia, com esse propulsor em bom estado, sendo assim, recomendado evitar.
Os mais confiåveis dessa linha, são todos os 1.6, e os 1.0, até 2007. Salte alguns anos, para evitar aqueles que passaram por problemas de lubrificação, muitos deles corrigidos na atualização da versão "TEC", de 2013 em diante, se tornando motores um pouco mais confiåveis novamente.
Mais importante ainda, busque sempre veĂculos de boa procedĂȘncia, com um bom histĂłrico de manutenção preventiva feita ao longo dos anos de vida Ăștil, e seja feliz.