A compra de um carro usado pode ser uma excelente opção para muitos, oferecendo uma alternativa mais acessível frente aos carros novos, com preços cada vez mais elevados.
No entanto, um dos problemas mais comuns que os compradores enfrentam é a quilometragem adulterada, uma prática enganosa que pode obscurecer o verdadeiro histórico do veículo e causar sérios problemas no futuro.
O odômetro
É fato que, saber a quilometragem correta é importante para ter a real noção do quanto um carro já foi usado, seu nível de desgaste e manutenção, e para mostrar essa informação, todos os veículos são equipados com um dispositivo chamado odômetro, que geralmente vem integrado ao quadro de instrumentos e registra a distância total que este já percorreu durante todo o seu tempo de uso.
Este equipamento pode ser do tipo analógico, comum em veículos mais antigos, porém mais suscetíveis a manipulações. Eles funcionam por meio de um conjunto de engrenagens mecânicas conectadas à roda do carro por um cabo de aço, registrando a distância percorrida. Alterar esse tipo de odômetro envolvia a manipulação física das engrenagens, tornando relativamente mais fácil para os fraudadores.
Com os avanços tecnológicos, os odômetros digitais se tornaram cada vez mais comuns e “aposentaram" os seus predecessores analógicos. Uma vez mais modernos e complexos, os odômetros digitais usam software e eletrônica embarcada para calcular os dados obtidos por um sensor na roda, e registrar a quilometragem. A adulteração digital é possível, mas é mais difícil de ser realizada sem deixar rastros eletrônicos, exigindo habilidades técnicas avançadas.
Claro que, para ter certeza se um carro foi bem cuidado, não basta apenas identificar a quilometragem real, mas é fato que o mercado dá muita importância sim, ao que mostra o odômetro, e quanto maior a quilometragem, mais difícil pode ser a venda, o que consequentemente pode desvalorizar mais o veículo.
Daí a ideia de muitas pessoas em realizar essa prática, que é criminosa, prevista no artigo 66 da lei n° 8078/1990, que pode ser configurada como estelionato (Artigo 171 do Código Penal), e para se proteger desse tipo de golpe, podemos citar alguns procedimentos importantes que você deve fazer, ao avaliar um carro usado.
Avaliação visual
Em veículos equipados com odômetro analógico, comece procurando por sinais de trincas ou emendas no próprio quadro de instrumentos, o que pode indicar que já foi aberto.
É claro que, um quadro de instrumentos pode sim, ter sido aberto em algum momento para ter sido realizado qualquer outro procedimento de manutenção lícita, por isso, uma evidência isolada não diz muito, sendo necessário continuar observando outros detalhes para montar sua “investigação".
Siga avaliando o estado de conservação do revestimento de bancos, observando se a espuma está um pouco mais funda (principalmente o bando do motorista em relação ao do passageiro).
Observe também o desgaste dos pedais, manoplas de câmbio e freio de de estacionamento, assim como o volante, alavancas de seta e limpadores, botões dos vidros elétricos, chave de farol, maçanetas internas, acrílico do quadro de instrumentos, enfim, tudo que possa indicar um padrão de desgaste maior que o esperado para a quilometragem informada no odômetro.
Claro que, dependendo da quilometragem informada, pode ser mais fácil ou difícil identificar se esta é verdadeira ou não. Por exemplo, um carro que informa uma quilometragem no odômetro de 50 mil km, mas que tem um desgaste interno condizente com um que já rodou mais de 150 ou 200 mil km, é relativamente fácil de identificar.
No entanto, saber diferenciar se um veículo rodou 200 ou 500 mil km, só pelo padrão de desgaste do acabamento interno, pode ser bem mais complicado, uma vez que alguns componentes já podem até mesmo terem sido substituídos devido à um desgaste considerado normal para essa quilometragem.
O interessante é ter um certo conhecimento sobre esses padrões de desgaste, e isso se consegue observando vários veículos diferentes, em vários níveis de desgaste e cuidado interno, para que quando você for olhar o próximo carro, ter uma "base de dados" para comparar, ou seja: NUNCA FECHE NEGÓCIO NO PRIMEIRO CARRO, por mais que lhe tenha agradado bastante, considere avaliar alguns outros para ter certeza se realmente ele está tão bom assim, ou não.
Avaliação com scanner
Sobre a possibilidade de identificar a quilometragem real do veículo com um scanner automotivo, é fato que alguns carros mais modernos, podem ter essa informação armazenada não só na central eletrônica, mas também em alguns módulos separados, como por exemplo, em várias BMW, essa informação fica armazenada também no quadro de instrumentos, assim como no módulo do ABS e até mesmo no chip da chave do veículo.
Nem todos os módulos são fáceis de se alterar essas informações, e se quem possa ter feito isso, deixou algum desses sem alterar, é possível descobrir com a ajuda de um scanner específico, mas que, geralmente só está disponível em concessionária ou em uma oficina muito especializada.
Porém, em outros carros mais populares, com menor nível de tecnologia embarcada, fica mais complicado descobrir a quilometragem real só com um scanner, pois essa pode ter sido alterada na própria central eletrônica, e nem sempre essa informação fica armazenada em outros módulos adicionais.
Avaliação do histórico de manutenção
No entanto, talvez a dica mais importante para saber se um veículo exibe a real quilometragem no painel, é avaliar seu histórico de manutenção.
Um dono cuidado e zeloso com seu carro, provavelmente vai guardar as notas de revisões e manutenções que foram feitas, tanto para seu próprio controle, quando para fornecer essas informações a um futuro comprador.
Nos primeiros anos de uso de um carro, este deve ser revisado em concessionária ou oficina autorizada, para que a garantia do fabricante seja mantida. E a cada revisão, um carimbo é adicionado ao manual de manutenção, atendo a data e quilometragem em que foi realizada, o que é ideal para um futuro comprador (você), confrontar esses dados com o que aparece no odômetro.
Passando o período de garantia, que pode variar de 1 a 5 anos, dependendo do fabricante, este veículo deve ter continuado a passar por manutenções preventivas e eventuais corretivas, ao longo da sua vida útil, e para cada uma delas, um proprietário mais cuidadoso, pode ter guardado as notas de serviço e de peças substituídas, seja ainda em concessionária, ou em qualquer oficina independente.
Sendo dessa forma, quando você for avaliar este veículo, terá todas as informações necessárias para atestar a veracidade das informações passadas pelo odômetro, e aqui vai mais uma dica importante: Se não tiver notas de revisão, manual de manutenção com os carimbos da concessionária ou até mesmo a chave reserva, DESCONFIE!
Se ainda quiser seguir avaliando um veículo em que o vendedor não lhe oferece as informações necessárias, saiba que, cada vez mais hoje em dia, as oficinas autorizadas ou independentes, registram a data e quilometragem, a cada revisão que é feita em determinado automóvel.
Dessa forma, se você identificar em qual estabelecimento o dono anterior levava aquele veículo, você também pode tentar conseguir esse histórico de manutenção com o estabelecimento, e consequentemente, os registros de quilometragem o veículo.
Mas você deve ter em mente que, para que se tenha mais segurança nessas informações, quanto mais antigo e extenso for o histórico de manutenção, melhor. Se possível, o ideal seria obter todo o histórico, desde quando o carro era novo, pois, dependendo da época em que possa ter ocorrido uma possível adulteração, até mesmo esse histórico pode não estar condizente com a realidade, uma vez que possa ter sido construído após o veículo já ter passado pela alteração no odômetro.
Existe também a possibilidade de obter o histórico de manutenção de alguns veículos em sites de consulta online, em que mediante o pagamento de uma taxa, você pode fazer um levantamento de várias informações como passagens por leilão, sinistros, furtos e até mesmo, o histórico de revisões, se tiver sido feito em oficinas credenciadas à esses sites.
Nesse caso, ainda não é algo disponível para todos os veículos em circulação, mas é um tipo de serviço cada vez mais em ascensão no mercado e, sim, pode ser uma excelente ferramenta, até mesmo para se obter outras informações igualmente importantes para a compra segura de um carro.
O mercado
Lembrando que está mais difícil encontrar carros com baixa quilometragem, os carros estão ficando mais caros e mais difíceis de serem adquiridos como novos, então, os usados estão sendo utilizados por maior tempo antes de serem vendidos, o que acaba por aumentar ainda mais, a média de idade da frota nacional.
Ainda há o fato de muitos veículos sendo utilizados ultimamente em aplicativos de transporte, assim como as frotas de locadoras, que estão cada vez maiores, o que aumenta o volume de carros com quilometragem elevada no mercado de usados.
Conclusão
A adulteração da quilometragem é uma prática fraudulenta que pode enganar até mesmo compradores experientes, mas, ao estar ciente das informações que foram passadas, você pode reduzir significativamente o risco de cair nesse tipo de golpe.
Investir tempo em pesquisa, solicitar relatórios de histórico do veículo e, sempre que possível, obter a opinião de um mecânico ou avaliador de sua confiança, são passos cruciais para evitar dores de cabeça futuras ao comprar um carro usado.
MMMO